Sentia-me... oprimido. Abafado.
Abri portas e janelas, fechei as luzes e saí.
Vagueei, sem rumo, pelas ruas da noite de Coimbra.
Respirei, calmamente, enquanto caminhava, lentamente,
Num um ritmo inversamente proporcional ao dos pensamentos que me afloravam a cabeça que como sempre fervilhava.
Passei num centro comercial e peguei num postal. Irás vê-lo mais cedo do que ouvirás estas palavras, decerto.
Passei por um local que me chamou particular atenção: aonde antes se vendia droga, leve, cortada, cara, agora vendem-se palavras. Certo que nao como estas, mas... talvez também elas levas, cortadas, caras... inúteis.
Fico também a conhecer aquela que parece ser uma nova loja para as miúdas que gostem de estar dentro da moda gasrtarem o dinheiro dos pais por um pedaço de pano cujo preço, concerteza avultado, é proporcional ao berrante das tintas usadas para o tingir.
Enquanto o vento, frio, passa pelo meu dorse quase-nu como se não existisse, fumo um cigarro que me é pedido pelo corpo mas que ao mesmo tempo é custoso de consumir. A história não é nova: rimo-nos sempre dos vícios até eles se rirem de nós...
E... É pensando em vícios que decido cortar pela Praça. Penso que, ao contrário do que sempre afirmei, talvez hajam momentos em que precisamos de voltar a por aquela coleira que afincadamente decidimos rasgar, e comportarmo-nos como humanos do Século XXI, nem que apenas por alguns minutos.
Reacto os meus pensamentos como se fossem mais um conjunto de escritos soltos prestes a formar uma pilha pronta a apanhar pó, deito a beata ao chão e um papel de escritos que agora já não fazem sentido no caixote de lixo. Penso na contradição destas últimas acções e suspiro: "vícios urbanos..."
Continuo a caminhar e observo a porta fechada. Já deve passar da meia-noite, não me espanta muito e também não me dou ao trabalho de olhar para o relógio.
Alguém conhecido das ruas de Coimbra cumprimenta-me. Eu devolvo o cumprimento. Engraçado como a maior parte das pessoas ficariam assustadas por serem cumprimentadas por ele e para mim: indiferente. Bem, existem também aqueles que gostariam de ser cumprimentados por ele; simplesmente eu não me interesso mais pelo mundo dele, nem sequer gosto dos seus métodos...
Passo adiante de um carro invulgar de se ver: três pessoas de pé a falar à porta do condutor; um homem e uma mulher dentro, no banco de trás,... Enfim: mais um carregamento de branca chega a Coimbra - tudo é tratado aos olhos de quem quiser ver; como sempre, ninguém quer.
Encolho mais uma vez os ombros, outro suspiro, os passos sucedem-se mas a calma não, passo por aquele bar que ficou marcado pelas tuas palavras, citando Florbela Espanca: "Olhar de monja, trágico, gelado, como um suturno e enorme campo santo..."
Penso mais uma vez que a felicidade é como a areia: pisamo-la, agaichamo-nos para podê-la agarrar, e depois enchemos um punhado dela mas, nunca contentes pela que temos, mas pela que insiste em escarpar-nos pelos dedos, acabamos por levar para casa uma recordação, uma pedra, uma concha, uma fotografia, tudo menos o punhado de areia - apenas a sensação de não termos aquilo que desejamos e, se formos mais introspectivos, penalizamo-nos com um sentimento de culpa por não termos tirado prazer da felicidado quando ela ainda estava nas nossas mãos.
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